Blog #04 - "Velha Resolução de Ano Novo" - Parte 1: Eu, a pandemia, Scarlett O'Hara e um Kindle
- Lorena Silva
- 26 de jan. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de fev. de 2022

Eu sei, eu sei, ninguém aguenta mais metas ou resoluções de Ano Novo. Muito menos nos tempos atuais. Mas pensei que estamos no primeiro mês do ano (perto do fim), então por que não deixar um incentivo a quem quer que queira (quantos Qs nessa frase) começar ou retomar um hábito que anda meio esquecido?
Eu já falei aqui no blog sobre experiências de leitura, estivesse ela enferrujada ou engrenando a pleno vapor. Eu vinha de uma looooonga temporada de leitura emperrada, do tipo de não conseguir ler NADA de ficção por uns três anos, no mínimo - até mais , se não conferirmos com os livros que fui obrigada a ler nas disciplinas de literatura do curso de Letras (nada contra meu curso lindo, pelo contrário. Só precisava de férias mesmo).
E eu sentia falta disso. Ponto. Se era algo que costumava me fazer bem e eu deixei de fazer, cheguei à conclusão de que precisava voltar. Como? Essa é a pergunta mais difícil de responder, porém, a resposta dela é a chave que você precisa para desemperrar a porta.
Ficava muito frustrada por não conseguir ler nada. E não deixava de comprar livros. Acumulei vários volumes ao longo desse tempo. Às vezes visitava a estante só pra não deixá-los sozinhos completamente, porém sentia o olhar de julgamento deles. Foram várias tentativas de retomar o hábito, todas furadas. Comecei a sentir necessidade de colocar o espírito investigativo pra funcionar e descobrir maneiras de trazer meus queridos livros de volta à minha rotina.

Começou com uma meta. Eu precisei colocar isso como um objetivo pelo motivo que já ressaltei, ou não teria foco para alcançá-lo. Mas fiz um caminho meio pedregoso: eu queria me forçar a ler um livro de 300, 400 páginas em uma semana, por exemplo. Eu colocava metas "menores" - como ler 100 páginas por dia - que nada mais eram que disfarces de que não estava exigindo demais de mim, só que não vinha lendo bulhufas. Pressão faz bons diamantes, mas a que custo?
Aí veio ela, a pandemia. Longe de mim agradecer a ela, não sou nenhuma blogueirinha sem noção! Mas eu vinha pensando nisso há tanto tempo que não vou mentir que o isolamento e a inesperada temporada em casa não me fizeram pelo menos olhar com maior curiosidade para minha estante.
Após os primeiros dois meses em que ninguém sabia de nada do nosso destino em cenário pandêmico, é claro que já tinha tido meus surtos e momentos de total desespero. Depois, veio um tempo de dar de ombros e fazer só o que eu podia. Minha primeira opção de fuga dessa realidade bizarra que nos encontramos não foram os streamings logo de cara. Foram essas dívidas literárias (que eu mesma tinha inventado, mas ainda não fazia terapia, então ainda não sabia ser gentil comigo mesma).

Além de vários livros parados, eu tinha uma estante cheia de culpa. Quando fui efetivamente ABRIR um daqueles livros, os que tinha comprado há mais tempo, vi que a compra datava de 2018 (eu sempre coloco data quando compro um livro físico). Isso me deu uma chacoalhada para ver o que poderia fazer. Nesse meio tempo, também já tinha comprado até um Kindle, e qual não foi o destino dele senão ficar parado do mesmo jeito... Eu precisava fazer alguma coisa.

Eu tentei que o primeiro livro fosse um dos físicos, tentei com bastante afinco. Mas eu acho que tinha esquecido até como se segura um livro. E como eu tinha entrado em pirações recentes de querer me forçar a ler livros longos, eu peguei essa quebrada perigosa que foi ESCOLHER UM LIVRO DE MAIS DE MIL PÁGINAS. Um tijolinho básico aí que é conhecido como "E O Vento Levou", de Margareth Mitchell. Eu amava o filme, que tem umas poucas quatro horas de duração, diga-se, e pensei POR QUE NÃO ME DEBRUÇAR SOBRE ESTE CALHAMAÇO EM PLENA PANDEMIA?

A gente ficou mesmo meio pirado, né?
Mas inaugurei uma tentativa mais firme de retomar a leitura em grande estilo. Eu tinha o livro físico e o livro digital da mesma obra. Aprendi a beleza de ler o livro físico durante o dia e o digital durante a noite. Acho que o que me ajudou também nessa tarefa foi que eu já conhecia e já gostava muito da história de Scarlett O'Hara, o que me manteve lendo - e importante frisar: QUE BAITA ROMANCE, entretenimento puro com notas de novela das nove + novela mexicana das boas. Quando dei por mim, estava realmente empenhada numa leitura de novo. Aos trancos e barrancos, contra todas as expectativas, ali estava eu me encontrando com os livros novamente.
Eu devo ter levado um mês inteiro, mas li "E O Vento Levou" no idioma original ainda por cima. Várias coisas sendo estimuladas aí, né? Me empolguei, cheguei até a criar um instagram só pra postar minhas novas experiências com literatura, cinema e TV, fui toda serelepe comemorar a vitória de ter lido um livrão de 1000 e tantas páginas... Mas foi só. Pelo próximo mês, voltei a ler absolutamente nada e me sentir meio em ressaca literária, que nunca pensei que fosse real! Andava meio longe do mundo bookstan, então muita coisa estava enferrujada aqui. Eu dei muita energia de uma lapada só e depois me faltou para continuar. Foi aí que percebi que talvez, apenas talvez, eu precisasse dar passos menores, mais lentos e mais planejados, para não me cansar tanto.
E aí a p*rra ficou séria.
Continuo na parte 2 deste post (Clique aqui).
Até lá!
Dívida, culpas e cobrança: só companhia pesada!