Blog #03 - "Lendo só e lendo junto": livros, clubes e mediações de leitura

Encontro do CLM (Jan, 2020): "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll

A experiência de leitura, assim como de escrita, pode ser bastante solitária. Não tem nenhum mal nisso, eu acho. Ela não precisa, no entanto, ser SEMPRE solitária. Stephen King, em um de seus livros que gosto muito intitulado "Sobre a Escrita", fala que a solidão é parte do processo, e é onde ele começa, mas não precisa terminar aí; chega um momento em que abrimos a porta para outras visões e vozes, que ampliam nossa experiência de leitura ou escrita.

Vim aqui hoje falar de leitura mais do que de escrita, mas vale ressaltar: as duas coisas são importantes e se retroalimentam. Contudo, nem todo mundo que lê, escreve como hobby ou profissão. Mas o inverso é certeiro. Então leitura é mesmo fundamental.

Eu tive um revés nos meus hábitos de leitura neste ano, inclusive, ando querendo compartilhar por aqui, mas virá em outro momento. Falei sobre isso em outro espaço como este: no site do Clube AMEI LER, do qual faço parte e atuo como mediadora. Leia sobre minha jornada de redescoberta da leitura clicando aqui.

Eu andava meio desconectada da leitura, mesmo. Desconfio que os anos de faculdade foram responsáveis por me dar um cansaço e até causar alguma repulsa por textos longos. Eu precisei ficar algum tempo nos textos técnico-científicos, também, e disso é ainda mais difícil de desatrelar. Contudo, foi necessário. É assim que as coisas funcionam: uma hora você prioriza algumas coisas, e outras acabam ficando sem segundo plano. Difícil não sentir culpa, hein? Mas a gente aprende.

Ainda em 2020, eu consegui engajar em algumas leituras, mas não sem esforço. O ponto de partida para mim foi entender principalmente que eu SENTIA FALTA, que era algo importante para mim. Não era apenas uma cobrança de produtividade ou um impulso de tempos de isolamento social. E a lista de espera estava imensa! Precisei de ajuda, de incentivo e até aprender técnicas mesmo para voltar a ler por prazer.

Essa redescoberta da leitura convergiu com outro processo individual de redescoberta de mim mesma. Percebi o quanto a leitura era parte de mim e quis resgatar isso. Foi quando comecei a pensar nas coisas que precisava fazer sozinha primeiro para só depois fazer junto.

Eu fui enveredando pelos caminhos que eu queria que me colocassem de volta na trilha. Isso eu tinha de fazer sozinha. O caminho era meu, precisava andar e descobrir o passo certo. Só depois de achar esse caminho foi que veio a necessidade de dividir e até incentivar, contagiar pessoas com a experiência. Foi quando, aos poucos, quis retornar a redes sociais, mais precisamente redes de leitores que me ajudassem tanto a registrar como compartilhar leituras.

Uma rede social que me ajudou nisso foi o Skoob, que inclusive é brasileiro e é um ambiente em expansão onde leitores podem falar sobre livros. Eu adoro os recursos que ele oferece de registros de leitura - que me ajudam muito na tarefa de praticar uma leitura mais ativa, com anotações, progresso e impressões.

Outra atividade que quis retomar foi a de participar de Clubes de leitura. Eu fico tão feliz em ver que essas organizações de leitores tem se tornado cada vez mais frequentes e presentes no nosso país. Clubes reforçam um sentimento de comunidade e criam espaços seguros para compartilhamento de leituras, onde surgem novas amizades e novas visões de mundo.

Minha primeira experiência com clubes de leitura foi com o Clube do Livro do Maranhão (CLM) (saiba mais aqui), pelo qual tenho imenso carinho e admiração. Eu conheci o clube na época em que estava publicando meu primeiro livro, La Lune, por volta de 2012. Quando soube da existência de uma galera da minha cidade que se reunia para falar de livros, fiquei encantada. Mesmo nunca conseguindo participar presencialmente, sempre acompanhava de longe, via as programações e pensava que um dia gostaria de ir a uma reunião.

Mas qual não foi a minha surpresa quando, em 2016, fui convidada como escritora para participar do III Encontro de Autores do Clube do Livro do Maranhão. Foi o segundo evento literário com maior amplitude que participei - me sentindo muito chique numa mesa repleta de autores que eram também amigos falando para leitores da cidade toda. Foi lindo!

III Encontro de Autores do Clube do Livro do Maranhão (2016)

Até hoje essa oportunidade deixou uma marca em mim, na minha jornada como escritora, pois me fez valorizar ainda mais as pessoas que me leem e dedicar mais tempo ainda a ser uma leitora, a viver histórias e aprender com elas.

Como leitora, pude participar de encontros que foram cruciais para admirar ainda mais o CLM e consolidar leituras: estive nas reuniões sobre "O Diário de Anne Frank", "Outlander" (Diana Galbadon), "Alice no País das Maravilhas" (Lewis Carroll) e, mais recentemente, "Úrsula" (Maria Firmina dos Reis). Todas reuniões que reforçaram o sentimento de pertencimento a uma comunidade de leitores e promoveram discussões que mudaram minha maneira de ver e me sentir sobre os temas abordados.

E agora, em 2021, recebi mais uma vez a honra de participar como autora, desta vez, tendo meu livro escolhido como leitura do mês de novembro. Sim, "La Lune" - primeiro volume da trilogia O Que Não Se Pode Esconder - está e estará sendo lido por sugestão do CLM neste mês que é ainda mais especial, pois é o mês de aniversário de sete anos de publicação do livro. Não poderia ter ficado mais feliz, pois como autora, ter momentos de encontro com quem me lê não tem preço! Estou ansiosíssima pela oportunidade. Convido você para estar conosco no dia 20, sábado, às 15h. E nem precisa ter lido ainda - o clube não trabalha com spoilers! Pelo contrário, o objetivo é incentivar cada vez mais pessoas a lerem. Os encontros tem sido online, então saiba mais no instagram @clubedolivroma para saber como participar!

Aproveitando esse gancho, enquanto escritora e membra de uma associação de escritores (a AMEI, conheça aqui), eu compreendo bem essa vontade de pertencimento em relação à arte, à escrita e, claro, sobre a leitura. Engajar em atividades relacionadas à literatura fomenta minha produção, amplia realmente meu olhar e sensibilidade. Por isso, atualmente trabalho em parceria com outros colegas escritores no Clube de Leitura AMEI LER, em que nos dedicamos a ler e produzir material sobre autores maranhenses para manter essa fonte sempre fresca e jorrando. O que mais gosto no clube é levar os autores para conversar com seus leitores, o que quebra essa parede entre um lado e outro - e assim podem acontecer trocas genuínas e frutíferas, bem como a valorização da literatura local, tão necessária.

Foi com o AMEI LER que experimentei pela primeira vez estar no papel de mediadora de leitura, a pessoa que conduz o encontro e vai fazendo os links necessários para que seja, de fato, uma conversa agradável, para que todos saiam dali com a sensação de que valeu a pena ter participado. Essa posição de ser "ponte" entre livros e leitores consolida um processo que começa do interesse por uma história até seu compartilhamento com outros. Para mim, essa cadeia é fundamental para que continuemos lendo, escrevendo, produzindo, respirando literatura.

Conheça as iniciativas desse tipo existentes pertinho de você, se te interessa essa leitura conjunta. Também não tem problema algum continuar lendo acompanhado apenas do livro. Já é companhia suficiente (hahaha). Mas garanto que, se você experimentar estar em uma reunião de um clube ou compartilhar suas leituras em espaços como redes sociais para leitores, o impacto positivo vai deixar seu coração quentinho.

E falando em coração quentinho, que tal fazer uma leitura que vai te dar uma amostra de tudo isso em um conto escrito por alguém que não só é escritora, mas também idealizadora e leitora no Clube do Livro do Maranhão? Conheçam essa delícia de conto chamado "Encontro", da Kleris Ribeiro, disponível neste link. Uma leitura que pode até te incentivar a retomar aquele livro esquecido na estante, ou quem sabe te vejo falando de "La Lune" no próximo encontro? Seria maravilhoso!

Vou encerrar o texto de hoje com minha citação preferida do conto, que diz muito sobre o que é ler junto:

A conversa nunca é só sobre livros, é sobre a vida.

Até a próxima!