top of page

Blog #02 - "Halloweenie" ou o que aprendi com Freud, Drag Queens e O Exorcista


Katya Zamolodchikova, Ru Paul's Drag Race All Stars, S02 E01

ATENÇÃO! ESTE É UM POST DE HALLOWEEN, não vai parecer, mas eu juro que é. O que você vai ler corre risco de fazer um total de ZERO SENTIDO, mas acho que pela arte, vamos dar uma chance, eu prometo que pelo menos vai te entreter. No máximo, assustar. Mas aí você pode sair correndo, a data permite.


Este também é um post sobre trauma. Achei que cabia aqui porque no dia 31 de outubro, acredita-se, há uma energia cósmica fenomenal no ar que nos permite revisitar lugares que preferimos não ir em qualquer outro dia, ou ter uma última oportunidade de expulsar energias ruins de uma vez por todas, antes que o portal se feche. É por isso que estou aqui. *reúne as crianças ao redor da fogueira*


Pois bem. Em 2021, completei meu primeiro ano redondinho de terapia sem faltar nenhum dia. Eu escolhi a Psicanálise como abordagem (ou ela me escolheu, mas isso é pra outro post) porque eu queria esmiuçar, ir na raiz, na parte feia, escura, profunda da minha alma e... Ei, tinha coisas boas também. Preciso me dar algum crédito. Neste ano cheio de marcos importantes, também foi o ano em que completei 30 anos, mais ou menos como um segundo nascimento para a chamada idade adulta plena - mas sabemos que não está tão plena assim. O importante é ter saúde. Quer dizer... É. Isso aí.


E aqui começamos com o Freud do título. O curioso nesse um ano de muita psicanálise foi que, nem uma vez, nem umazinha, minha psicoterapeuta me ouviu falar dos meus sonhos. Vocês sabem, sonhos são uma amálgama do nosso inconsciente e tudo mais. E acontece que eu não lembro dos meus sonhos. Quase nenhum. E os únicos que me lembro conseguem ser recorrentes. Ah, e pesadelos. Mas o plural é só charme. Eu só tinha um pesadelo: com Reagan MacNeil, a protagonista interpretada por Linda Blair daquele filme bem leve, O Exorcista. Aquele mesmo, o original.


Vamos lembrar dela assim... É melhor. (Linda Blair em O EXORCISTA, 1974)

Acontece que eu vi esse filme aos 7 anos de idade. Isso. Você leu direito. Não me pergunte em que circunstâncias isso aconteceu, pois tal qual meus sonhos, não faço a menor ideia. Não sei até que ponto minha idade interferiu no trauma, ou se foram outras associações, ninguém parece saber me explicar tampouco. Mas um filme sobre possessão, cuja protagonista era uma menina (como eu???), em uma casa que poderia ser qualquer uma, com efeitos revolucionários no gênero do terror só podia ter me gerado pesadelos por toda minha adolescência e começo da fase adulta (nunca viu esse filme? Eu queria recomendar, mas do meu lugar de fala, não parece uma boa ideia).


Todos os sonhos que eu tinha, invariavelmente, acabavam sendo sobre Reagan. Eu vi esse filme uma única vez e ela nunca mais me deixou. Então meu cérebro, muito gentil como sempre é, me defendendo dos males, veio mais essa vez em meu socorro - bloqueou meus sonhos. Eu não aguentava mais ver Linda Blair sempre no final de cada sonho, com o rosto deformado, machucado, de dentes podres, camisola manchada de vômito, se contorcendo e... Bom, quem viu, viu.


Pula pra 2021, comecei - finalmente - a assistir Ru Paul's Drag Race, o famoso reality estadunidense de competição entre drag queens. Fiz das minhas férias um retiro espiritual drag (Posso ouvir um amém?). Ali pela sétima temporada, conheci uma tal de Yekaterina Petrovna Zamolodchikova - mas pode chamar de Katya. Essa criatura maravilhosa merece um post especial só pra ela, por ora, vale dizer que ela se tornou facilmente minha favorita do programa pelo carisma, autenticidade, ousadia e talento de seu intérprete, Brian McCook.


E o que raios Freud, Reagan e Katya tem a ver? Ah, queride leitore, agora vem o fio do inconsciente que amarrou tudo isso juntinho.


Assistindo Katya em uma de suas fontes de conteúdo infinitas no YouTube, havia algumas piadas que me evocavam memórias, mas não conseguia dizer com precisão do que tratavam. Então, no meu aniversário de 30 anos, senti que precisava de um ato simbólico de maturidade: DO NADA, decidi rever O Exorcista e tentar superar meu trauma. Contei com um esquadrão antichoque da família para tornar a sessão mais leve e, pasme você, sobrevivi ao filme. Meus olhos de adulta (?) me ajudaram a ver os possíveis problemas e desfazer um pouco mais a imagem que me causava pesadelos.


Mas e a Katya? Mas e o FREEEEEUD?

"Você vai morrer lá em cima" (O EXORCISTA, 1974)

"Você vai morrer lá em cima"
(Trixie Mattel e Katya no webshowUHHHHHN, 2016, episódio de Halloween)

Acontece que depois de rever o filme e desbloquear memórias, voltei normalmente para minha maratona de Ru Paul's Drag Race me sentindo muito adulta e evoluída por enfrentar meus medos e bichos-papões escondidos debaixo da cama. Foi quando bateu a compreensão: vendo a segunda temporada de "Ru Paul's Drag Race - All Stars" em que Katya (ou minha fav) retorna triunfante para competir pela coroa, ela faz um número de ginástica olímpica (não me pergunte, essa é Katya), e recria no palco a cena icônica de Reagan - isso, a menina de O Exorcista - descendo as escadas de costas. A culpa foi toda dela.



Voltando nos conteúdos que tinha assistido dela até ali, eu encontrei MILHARES de referências a O Exorcista nas piadas de Dona Katynha. Então, nada acontece por acaso. Uma drag queen me segurou pela mão e foi me preparando aos poucos pra, por fim, me fazer um convite: trocar a imagem assustadora de Reagan pelo glamour e flexibilidade invejáveis de Katya Zamolodchikova. Quero dizer, você trocaria facilmente a cara do Pazuzu por este rostinho aqui, né?

Eu nem pensei duas vezes.


Agora você que me lê até aqui poderia fazer uma análise completa (ou não) da profundidade dos arquétipos, simbolismos e representações dessa doideira toda. Mas foi assim que eu desbloqueei memórias, superei traumas, lembrei de sonhos, conheci drag queens mundialmente famosas e.... Até me perdi na linha de raciocínio...


Não, ainda não me lembro dos meus sonhos. Mas já consegui identificar alguns padrões, e já estou mais atenta para tentar lembrar deles. Eu gostaria de lembrar se sonhasse com Katya, por exemplo (piscadinha). Do que quer que seja que meu cérebro vinha me protegendo, a arte que causou o trauma também foi a arte que ajudou a me libertar dele.


Isso pra mim já confirma a importância que ela tem na minha vida. A arte, não a Katya. Tá, ela também. E todas as coisas que ficam por aqui, rondando minha cabecinha sem sonhos...


E hoje, por fim, é Halloween. Passei por todo esse processo de superação emocionante, agora registrei aqui. Acho que já posso enterrar o assunto em cova funda, pra continuar no tema e tornar este relato um pouco mais relevante no dia de hoje. Rápido, o portal vai fechar! Aviso se Reagan me visitar nos meus sonhos. Acho que finalmente poderemos conversar amigavelmente. *dedos cruzados*


E, se não for tão amigável, conheço alguém que vai resolver na base do espacate, e com estilo:

Feliz Halloween! :)








 
 
 

Comments


©2021 por Lorena Silva. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page